Pitágoras: Monismo ou Pluralismo?

Ivo Fernandes • 4 de fevereiro de 2025

Uma Reflexão sobre os Fundamentos da Filosofia Pitagórica


O Contexto Filosófico: Monismo x Pluralismo


Na Grécia Antiga, os filósofos pré-socráticos buscavam explicar a natureza da realidade e a origem de todas as coisas. Duas correntes principais emergiram nesse contexto:


Monismo: Defendia que a realidade era constituída por um único princípio ou substância fundamental. Parmênides, por exemplo, acreditava que tudo era uno e imutável.

Pluralismo: Propunha que a realidade era composta por múltiplos elementos ou princípios. Empédocles, por exemplo, afirmava que o universo era formado por quatro raízes (terra, água, fogo e ar).


Pitágoras, no entanto, não se encaixa perfeitamente em nenhuma dessas categorias, o que torna sua classificação mais complexa.


A Filosofia Pitagórica: Números e Harmonia


Pitágoras é mais conhecido por sua afirmação de que "tudo é número". Para ele, os números não eram apenas abstrações matemáticas, mas a essência mesma da realidade. Essa ideia sugere uma visão unificada do cosmos, na qual os números são o princípio subjacente a todas as coisas. Nesse sentido, poderíamos interpretar Pitágoras como um monista, já que ele propõe um único fundamento (os números) para explicar a realidade.

No entanto, a filosofia pitagórica também enfatiza a multiplicidade e a diversidade. Os números, em si, são múltiplos e se combinam de infinitas maneiras para criar a harmonia do universo. Além disso, Pitágoras e seus seguidores acreditavam em uma dualidade fundamental entre opostos, como limitado e ilimitado, par e ímpar, masculino e feminino. Essa dualidade sugere uma visão pluralista, na qual a realidade é composta por múltiplos princípios interagindo entre si.


A Harmonia como Síntese


Um dos conceitos centrais do pensamento pitagórico é a harmonia. Pitágoras via o universo como um sistema ordenado e equilibrado, no qual os opostos se complementam. A música, por exemplo, era considerada uma expressão perfeita dessa harmonia, pois surgia da combinação de notas diferentes em proporções matemáticas precisas. Essa ideia de harmonia pode ser vista como uma síntese entre o monismo e o pluralismo: enquanto os números representam uma unidade subjacente, sua combinação gera uma multiplicidade harmoniosa.


Conclusão: Uma Filosofia além das Categorias


Classificar Pitágoras como monista ou pluralista é, em última análise, uma simplificação. Sua filosofia transcende essas categorias, propondo uma visão única que integra unidade e multiplicidade, ordem e diversidade. Pitágoras nos convida a pensar a realidade como um todo harmonioso, no qual os números são a linguagem universal que conecta todas as coisas.


Portanto, embora Pitágoras possa ser associado ao pluralismo por sua ênfase na multiplicidade de princípios, sua visão de um cosmos unificado pela matemática também o aproxima do monismo. Talvez a verdadeira lição de Pitágoras seja que a realidade não pode ser reduzida a categorias rígidas, mas deve ser compreendida como uma dança entre o uno e o múltiplo, entre a ordem e a diversidade.


Ivo Fernandes


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