Poesias
Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia. Vinicius de Moraes
Lara
Vieste breve
um momento e já carregavas mundos,
um rastro de luz em cada gesto,
como quem entende o segredo do tempo.
Dizem que não é o tempo que conta,
mas o peso de cada instante vivido.
E tu, em tão poucos dias,
bordaste significado no invisível,
tocaste corações sem tocá-los,
deixaste marcas como quem sempre esteve.
És agora uma com o Eterno,
uma rosa em memória,
um símbolo de vida que ecoa,
como se cada folha que cai
trouxesse um pouco da tua história.
Retornas para Aquele que é antes de tudo,
nasceste do Amor, viveste em Amor,
e agora repousas no colo d’Ele,
onde não há morte, apenas Ser.
O que nos deixas não é tristeza,
mas a verdade do significado,
o lembrete de que a vida,
é muito mais que contagem de dias.
É o toque, o gesto, o brilho,
o instante que permanece além.
Que tua vida, Lara, inspire a nossa,
a buscar o que transcende,
a viver com o mesmo propósito,
tendo o coração no Eterno,
para um dia, face a face,
te conhecer na mesma Luz.
Ivo Fernandes
07 de Novembro de 2024
Fala-me Sem Letras
Se quiser, fale comigo, não me escreva.
Não me mande carta, e-mail ou mensagem,
palavras escritas nunca são o que se diz.
Palavras fixas são escrituras,
abertas a interpretações que nada têm de mim.
Produzem leis, geram legalismos, matam a vida;
palavras faladas, essas são espírito puro.
Se você quiser me falar, então também me escute.
Não me leia apenas, pois, ao me ler,
vê letras — teu sentido não é o meu sentido.
Sabemos que não há comunicação,
mas há encontro. E se quer me ouvir,
então vem e me encontra.
A maior verdade entre nós se manifesta
no corpo que fala.
Ali, onde a presença nos enfrenta ou liberta,
onde as afeições aquecem o frio das palavras,
surge o verdadeiro dizer —
aquele que nem sempre diz, mas se revela.
A letra mata, mas o espírito vivifica.
Escrevo para quando eu morrer,
e os que me leem já me deixaram,
mas aos que chegam, há ainda pele, suor e sangue,
em cada som e silêncio.
Ivo Fernandes
#poesia #Reflexões #palavras #poema
Entre Mundos e Fragmentos
Sou parte de uma obra inacabada,
parece ser este o meu destino:
todas, ou quase todas as tentativas, fracassadas,
há sempre algo inconclusivo no caminho.
Aqui, tantas poesias soltas,
tantos livros nunca terminados,
projetos que não se desenvolveram,
uma palavra nunca dita.
Não tive passado, e não consegui construir um,
mas de tanto não ser, tornei-me o que sou.
Todo homem sem passado não possui futuro;
sou um ser do imediato ilusório.
Cerquei-me do poeta e neguei a metafísica,
quis me curar da doença dos olhos e apegar-me à natureza.
Viver passou a ser não pensar,
como os deuses fora do tempo.
Mas minha existência limitada não me deixa tão longe;
a maldição dos homens também me cerca.
Para não pensar, só posso pensar que não, e, assim não escapar da metafísica:
transformo tudo em poesia, único lugar onde sou sem me pensar.
Então, construo castelo de palavras, em terras que não me pertencem,
faço dívidas que não posso pagar,
evito palavras que nada mudarão,
tornei-me tão hedônico que só me resta viver.
Terminarei algo?
Verei a terra prometida?
Ou morrerei nas montanhas distantes,
por meu pecado de ser demasiado humano?
Não sei, não sei nada.
Só sei que a morte já me rondou muito,
tão de perto que já senti seu cheiro e vi seu rosto,
mas, estranhamente, ainda estou aqui.
Com o corpo que não lembra os dias de horror,
mas que tampouco alcança seu estado de glória.
Meu corpo é o mapa da minha existência,
e por isso mesmo, estou em paz com ele.
Com meus desejos confusos,
esse ser não orientado, não definido, sem gênero, sem sexo,
um curioso que entra em portas abertas,
e, em algum lugar de si, busca apenas a si.
Se nenhum livro for concluído,
se tudo que leram até aqui foi tudo o que há,
o que farão com as sobras, com o que está entre dados?
Quem será eu para aqueles que terão partes e nunca o todo?
Quantos dias ainda tenho?
Quantos aniversários ainda contarei?
O que farei com esses dias?
Existir, e existindo farei mais um capítulo do livro.
POESIA COMPLETA NO LIVRO INACABADO!
Soneto da Segunda-feira
Quando chega a segunda, e a luz do dia,
de um lado a alegria do final,
do outro, a corte que nos distancia,
eis a dialética do ser total.
Os opostos bloquearam nossa unidade,
iniciamos nosso desencontro em paz.
A ausência já não é necessidade,
a espera é parte do amor que nos traz.
Uma segunda que aguarda a sexta,
e o tempo entre elas, mero detalhe.
Uma estranha paz nos cerca e se presta.
Se o amor é estranho, o nosso é além.
Pois nunca nomeamos esse enlace,
já que nosso amor transcende o que vem.
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A Ilusão do Amor
O amor é estranho.
Quando chega, traz a força da eternidade,
mas o tempo o devora.
É no amar que percebemos o poder do tempo
e o absurdo do fim.
No início, a pessoa amada toma cada pensamento,
preenche os momentos, invade os sentimentos.
Horas de conversa fluem sem esforço,
e cada minuto distante se torna ansiedade.
Queremos o outro o tempo todo.
O amor começa no agora,
torna-se o desejo urgente do imediato,
e cada dia parece infinito.
É assim que nasce o "pra sempre".
Então, a realidade chega,
e os amantes descobrem que o tempo todo juntos
é apenas uma ilusão.
Acostumam-se ao "de vez em quando".
O beijo, o sexo, o abraço, a conversa —
já não têm mais o mesmo sabor.
De repente, o eterno se reduz,
vira hábito.
E até nisso ainda há uma certa beleza.
Mas quando o terrível do amor aparece,
o oposto acontece:
os amantes de outrora já não desejam se ver.
E então, chega o dia em que não se veem mais.
Aquilo que foi eterno
se torna nada, nem lembrança.
Fotos rasgadas, mensagens apagadas,
memórias esquecidas.
Como é estranho ver quem tanto amamos
se transformar em um completo desconhecido.
O amor, definitivamente, é uma ilusão.
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14 de setembro
As palavras surgiram como luz numa sala escura,
mudando todo o cenário.
De repente, vimos o que estava oculto,
e em nossa história, o inconsciente reinou.
Mas hoje, algumas verdades nos tomam por assalto.
Não sei bem o nome do que houve — um amor inocente,
de tão inocente, impossível, mundos tão opostos.
E minha marca de morte não deixa o novo seguir além do dia;
Sou amaldiçoado pela força do momento.
O que mais quis foi um tempo depois, que não veio.
Restou-me ver teu caminho e me alegrar com ele,
ver tuas mudanças e tua eterna beleza,
e saber, em mim, que um dia me desejaste.
E mais que isso, saber que aqueles momentos
permaneceram em ti como poesia.
Feliz de quem sabe ser musa do poeta, inspiração.
Pode-se ter todo amor do mundo, mas sem poesia, tudo é menor.
E você, seu nome, sua história, seus dados, aqui continua escrita.
Já não espero mais nada, mesmo que aguarde sempre a força dos ventos.
Não posso dizer que feche os olhos às possibilidades.
Por agora, só imagino como homem e mulher podemos fazer uma nova poesia.
Mas saber que você pode ler isso já nos mantém ligados pela força do desejo que ainda permanece inconsciente.
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Soneto à Clarice
São tantas boas memórias num só tempo,
encheste de alegria o meu deserto.
Foste o último oásis do meu ser mais perto,
depois de ti, mudou meu pensamento.
Vieste ser apenas quem tu és,
e senti, no fundo, tua essência.
A força que irradia em tua presença,
se alia ao teu brilho e à tua vivência.
Como é bom te amar,
vejo teus gestos, gostos e vontades,
sinto tua coragem a te guiar.
Teus treze anos foram meu presente,
e hoje sonho ver-te além do horizonte,
pois teu amor me faz seguir em frente.
**Canoa Quebrada**
Diante das águas que teus olhos avistavam, os meus estavam,
e no espelho do mar, vi teu corpo nu,
como uma sereia na minha direção, me chamando para entrar,
mergulhar em ti como no mar.
Entrei por tuas entradas íntimas,
com minha língua, meus dedos, meu sexo,
e, como numa dança de acasalamento, te fiz mulher.
Entre gemidos e palavras, eras minha novamente.
Ali, onde tua história ainda não se cruzou com a minha,
onde teu corpo estava diante de outro,
recuei de ir ao teu encontro.
Não queria apenas teu rápido olhar,
queria te possuir entre as dunas vermelhas,
te possuir diante do oceano, numa canoa quebrada.
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Crepúsculo
No fim de tarde do primeiro dia de setembro,
meus olhos contemplam o cinzento
que se mistura aos tons alaranjados do pôr do sol.
Estou aqui com minha maturidade entre trabalhos,
mas não me falta música, amor e poesia.
Atrás de mim, os vinhos que hoje saboreio sozinho,
sem pressa ou necessidade de companhia.
Sim! Levou tempo para chegar aqui, mas cheguei.
Meu coração está livre,
todas as palavras foram ditas,
e minha escuridão aceita.
Se me perguntas como,
digo que longa e difícil é a caminhada.
Meu caminho foi feito entre mares, pedras, ventos e areia,
e de tanto inventar novelas,
hoje sou o maior espectador da minha própria história.
De tantos disfarces usados,
hoje me escondo apenas por trás dos cabelos de minha calvície.
Meu coração está em paz com o amor e seus desertos,
e junto da amada, tenho minha alma completamente desarmada.
Minha oração continua, sem pedir muita coisa.
Meus pés ainda tocam as praias dos mares que sou.
Ivo Fernandes
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Vaidosa
As curvas do teu corpo que envelhece continuam a me encantar,
Tuas costas alvas e o encontro do teu quadril com tua cintura.
Minhas mãos passeiam pelos teus contornos como numa viagem por montanhas e vales.
Teus cabelos pintados são tão belos quanto os fios brancos que escondes,
E teu cânion, nossa brincadeira secreta, é pura magia.
Como não amar tua pele, teu perfume, teu jeito?
Nossas pernas entrelaçadas e meu desejo em ti enquanto teus dedos se movem,
Junto com minhas palavras em teus ouvidos, revelando-te meus planos e desejos.
Teus pequenos e belos seios que desafiam o tempo,
Tua pele lisa e tua vulva perfeita,
Teus lábios carnudos e todos em harmonia.
E o tempo...
O tempo que passou e te manteve vaidosa,
Com teus cansaços e maquiagens,
Mas com a constante presença na minha companhia.
Antiga parceira das aventuras mais loucas,
Eterna na vida e no destino.
O que os novos anos ainda nos reservam?
Tuas rugas, tuas mãos, teu semblante.
Não tenho dúvida que a palavra bem define esse jogo:
Vaidosa, vai porque o mundo ainda te espera.
Vai porque tua beleza só cresce.
Vai porque tua idade é só um acréscimo de maturidade.
Vai porque estou contigo a te esperar como um velho pescador nas eternas ilhas de Antônio.
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O convite
Se tuas palavras hoje fossem um convite verdadeiro,
Se a música fosse uma dança de acasalamento,
Então o que de ti imagino ganharia pele,
E seríamos semelhantes na maneira de amar.
E como amamos?
Amamos sem moral, mas com uma paixão avassaladora,
Amamos sem verdades absolutas, mas sem falsidade.
São as mentiras sinceras que nos interessam,
Amamos em segredo, pois somos sempre pergunta e jamais resposta.
Se tudo isso for real e tua porta estiver aberta, vou entrar,
E espero te encontrar pronta para ser despida,
Deixar-te envolver em toques, beijos e sexo.
O amor que os poetas possuem não cabe nos códigos morais,
É um amor feito de suor e sêmen,
E o gozo é uma rima de prazer.
Contra nós, temos apenas as contingências das escolhas passadas,
E diante de nós, o labirinto desse jogo intenso.
Se me quiseres experimentar, eu te desejo.
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O que Realmente Preciso?
Qual é minha falta fundamental?
Quem tem a resposta certa?
Sei que há muitas respostas.
Mas, se há algo que nunca mudou, foi o mar.
Ali, onde minhas orações sempre foram ouvidas,
onde me coloquei com tudo que sou ao som das ondas,
meu Deus tem a voz como o som de muitas águas.
O meu Deus não pode ser usado por mim.
Não é Ele que me responde, sou eu que respondo ao Seu chamado,
pois tudo é Dele, tudo é Ele.
E por isso aprendi a viver contente em qualquer situação.
Na hora do abandono, foi ali, diante do céu estrelado, que encontrei companhia.
Ele sempre foi a família, o pai, a mãe, o irmão, o amigo.
E sem Ele, nada teria sentido.
Todo ser humano precisa de uma mãe, diz o cantor.
Todo ser humano precisa de Deus, diz o pastor.
Todo ser humano precisa de uma ideologia, diz o filósofo.
Todo ser humano precisa de sentido, diz o analista.
Eu preciso da poesia, da força da beleza.
Eu preciso Dele, que é o Amor.
Por isso, não busco em templos feitos por mãos humanas,
não busco nas canções bem elaboradas,
nem nas teologias ou doutrinas.
Meu coração suspira por esse poder que a tudo perpassa.
Sim! Ele está em tudo, Ele é tudo.
Não há outro, tudo é Um.
Por isso, nele existo e me movo.
A mim foi dada a consciência que me faz afirmar enquanto outros negam.
Eu o afirmo porque afirmo a vida a cada instante.
Eu sei o que é não ter.
Eu sei também o que é ter.
Prazer e desprazer,
escassez e abundância.
E em todas as coisas, permaneço multiplicando o talento que por ora me pertence,
até o dia que o dono de tudo me solicitar de volta.
Nesse dia, espero entregar, conforme minha capacidade, multiplicado o talento que me deu.
Mais vida, mais vida, mais vida, até o fim.
Essa é minha religião:
a que afirma a unidade de todas as coisas,
a única realidade permeada do amor,
a consciência como centelha divina,
a vida como talento,
e a missão de multiplicá-la!
A vida se multiplica sempre,
e eu, consciente disso, sei.
O que farei com isso define o que chamamos de destino.
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#Meditação
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Objeto Direto?
Nesse jogo, quem é objeto de quem?
Qual a natureza do objeto direto?
Quando a canção narra o desejo,
Nas conversas, ele se embaraça,
Na imaginação, ele se amplifica —
'Se e mais se', jamais é o objeto de desejo.
Sim! Eu anseio pelo corpo, mas, como monista, pergunto:
O que é o corpo sem a alma?
Sim! Desejo a paixão, mas neste mundo regrado, quem ainda entende o prazer?
Para mim, que se danem as proibições; não vivo confinado pelos limites.
O que desejo? Vinho e mar,
E a verdade revelada por essa combinação.
As palavras são meu triunfo,
E de pecados, meu ser foi moldado.
Meus versos em linha reta expõem minha vileza,
E assim prossigo, errante neste jogo de aparências.
Sim! Minha poesia é exageradamente humana.
Mesmo quando convocado ao jogo, aqui estou,
Cansado de tudo que não toca a essência humana em sua profundidade.
A regra que sigo é fundamental:
Viver até morrer; essa é a minha concreta sentença.
Vivo, logo penso! Penso, logo crio!
E o que for considerado objeto direto, é meramente uma criação.
Meu amigo te idealiza como musa inspiradora,
Não possuímos nada além de palavras,
E eu não conheço nada além das minhas próprias invenções.
O que pensas que sou?
Nunca estou só!
Sou um predador de mim mesmo.
Se amas a poesia, como podes desejar objetos diretos?
O que realmente queres ouvir?
Se desejo teu corpo, isso é tão evidente quanto um objeto direto.
Vinho, sexo, êxtase, prazer e mais prazer.
Mantive o ritmo ou alterei tudo com minhas novas criações?
Consegui teu sim ou teu não?
Se estiver certo, um dia, algo disso tudo virá à tona.
Se és uma jogadora mais astuta que nós, encontrarei outra peça rara.
Mas o que desejo, falando claramente, não são meros objetos; busco sentido!
Todos os objetos diretos que possuo são equivalentes.
O que realmente desejo é o indireto, o eternamente incerto.
Desejo sempre questionar as certezas, como um bom cético,
E como um hedonista, meu objeto direto é a certeza de que o prazer é o início e o fim da vida.
E por agora, ainda sonho em nos entrelaçar nos meus desejos e nos teus.
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Ilhas de Antônio
Começou assim: enquanto ele te desenhava em palavras,
eu te imaginava.
Um nome, uma imagem, um contato emergiam,
e com eles, teu desejo na projeção do desejo do outro.
Diante dos meus olhos, a beleza em cada postagem.
Sou poeta e já te criei em mim:
como musa, como possibilidade, como tentação.
Como homem dos mares, já te desejo em minhas ilhas;
como ser, anseio banhar tua alma de sentido.
O que terei além da gentileza das tuas respostas?
Terei a companhia enquanto caminho na praia?
Terei teu sorriso enquanto as taças brindam o bom vinho?
Das palavras, o universo das fantasias se desdobra,
no plano dele que virou nosso,
no meu plano que só a mim pertence:
com ele, com elas, com eles,
ou apenas nós num momento singular,
ou ainda todas as possibilidades.
E quem sabe o teu plano que desconheço?
O fato é que uma mulher como você, por mim imaginada, tudo vale:
da pele, da respiração, da presença.
Poderia ser uma disputa de poesia,
poderia ser um mero jogo,
poderia ser tudo, mas desejo que seja apenas o que é:
uma oportunidade.
Essa é a essência das ilhas de Antônio.
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*Infinito**
Era para ser domínio de outro,
mas a beleza nunca se aprisiona.
À medida que teu corpo expande horizontes,
meu desejo escala com a velocidade dos nossos encontros.
Podem julgar tudo que sinto,
mas sou feito de maresia e paixão.
Indiscutível é o surgimento do desejo,
iniciando-se em detalhes sutis e culminando em poesia.
Logo, o controle se esvai,
a excitação invade corpo e mente,
e te imagino aqui, rendida ao meu toque.
Ao alcançar-te, qual será teu pensamento?
Refletirás sobre minhas primeiras palavras ou as últimas,
onde nos fundimos em romantismo e ousadia?
Não sei se tudo se resume a versos,
a um encontro ou a muitos,
a um corpo ou a vários.
O que sei é que agora estás eternizada em minhas ilhas,
onde o mar beija o infinito,
e todas as possibilidades se fazem presentes.
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Descoberta
O tempo passou e uma certeza se estabelece:
Encontrei a Mulher justamente quando descobri que Ela não existe.
A que existe é única, singular na minha história,
Uma mulher completa com todas as suas faltas,
A perfeita mistura de amor e paixão,
A síntese de desejo e sentimento.
Como não admirar essa mulher que me ama com tanta força?
Que faz apenas o que quer e ainda assim me escolhe.
Uma mulher nascida para ser livre,
Intensa em tudo que faz,
Com rosto de princesa e corpo de meretriz,
Aquela que se basta mas que não dispensa companhia.
Ela não precisa de mim, e foi aí que realmente aprendi a amar.
Agora, não há disputas,
O que desejo é apenas o beijo e o tempo que tiver.
Não preciso mais do 'para sempre',
Mas ainda quero todos os dias.
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A Melhor Viagem
A vida é um movimento, única absoluta certeza,
uma viagem de origens e destinos incertos.
O que temos, senão o percurso?
E no percurso, todas as coisas.
Desde aquele instante em que não somos nada além de gametas,
passando pela multiplicação absurda das células,
ao primeiro grito e choro que nada significam,
entre paraísos e infernos de sensações.
Então vem o nome, o olhar, a percepção,
enfim, o eu, os eus, e as negações.
Uma longa viagem pelos becos da consciência
e pela escuridão inconsciente.
As experiências, os sabores, as dores e alegrias,
o sexo e o amor, a profunda angústia,
o vazio, a fé, a dúvida e a certeza.
E vamos nos reinventando a cada trecho,
jamais os mesmos, nunca apenas um.
E assim cheguei até aqui.
Nos cadernos físicos e digitais,
nas imagens, nas marcas,
tudo transformado em lembrança e memória.
As memórias garantem a identidade,
e o que sou se funde em você sem vértices.
Pois todos os meus desejos convergem em ti,
De todos os caminhos, por lugares conhecidos e desconhecidos,
entre todas as amadas e amantes, entre corpos e suores,
você foi, e é, minha melhor viagem.
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Soneto à Namorada
Antes de ser dita, a palavra já trazia
Sonhos e desejos, perguntas incessantes,
Um sim inesperado, decisões vibrantes,
Eras o tempo onde o tempo se esvaía.
Sem nome, estiveste em cada dia,
Em cada aventura, paixões tão vibrantes,
Necessidade em minha alma assunta,
E te amei mais do que a própria poesia.
Transformaste-te em mulher, tão amada,
Sobretudo, amante, eternamente querida,
De tanto ser, ao não-ser convertida.
Da dor, veio a espera; da falta, a jornada,
Da saudade, a certeza, enfim, percebida:
Renascido por ti, reafirmo-te, minha namorada.
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29 de Junho
Eu poderia começar de muitas formas,
mas encontro apenas uma:
Feche os olhos e escute novamente a canção
enquanto a chuva cai lá fora.
Sinta, quando o medo se dissipou, o gosto do nosso beijo,
as línguas que se encontram, os lábios que se exploram,
minha barba a arranhar tua pele suave,
e meu ofegar que invade teus sentidos.
Quando te entregas, teu corpo revela,
busca nosso perfeito encaixe,
e tua excitação se revela a cada toque apaixonado.
Sabes que minha pele encontrou a tua no escuro,
meu desejo encontrou o teu no silêncio,
minha alma amou a tua em segredo.
Nossa paixão, embora não declarada, estava ali,
na sede insaciável que pedia mais,
no tempo que parou, cedendo espaço apenas para nós.
Se nossos corpos hesitaram em ir até o fim,
nossas almas não conheceram barreiras,
e diante do santuário do nosso encontro,
experimentaram o êxtase pleno.
O que você acha que sinto? Desejo?
Amar não é, acaso, o maior dos desejos?
O que sei é que negar seria nosso pior erro.
A vida, forte como um furacão, exige ser vivida—
E nós sabemos, profundamente, que queremos mais!
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Angel
O homem é feito de desejo,
pode ser a falta, a ausência de algo,
ou pode ser o excesso, o que escapa e transborda.
Você estava lá, diante dos meus olhos,
tua imagem se fixou tão ardentemente em meu olhar
que nem sei se te vi ou se te inventei.
Mas as paixões de um poeta por vezes permanecem apenas em seus sonhos,
até que surge o momento, o instante, a possibilidade—
então, o que era apenas visão se transforma em poesia,
e a poesia se torna tudo que se pode desejar.
O real é apenas um detalhe,
um caminho para mais encanto,
um espaço onde o alimentado nos versos ganha carne.
E se os corpos se encontrarem, não haverá limites;
não existe distância nem tempo quando o desejo nos governa.
E pode terminar como em uma cena de novela,
corpos nus no tapete da sala,
com a certeza de que a verdade é um segredo revelado.
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43
Cheguei até aqui! Olhando para o passado, recordo-me do dia em que pensei que não chegaria.
Lágrimas irromperam, temendo nunca mais ver a alegria daquela terceira razão essencial.
Mas hoje, e nos dias que marcaram o fim da última agonia, tudo está diferente.
Que tenebrosos foram os dias desse meu inferno astral,
mas da solidão brotou a aliança com minha própria dor,
e velhos amigos se encontraram nas profundezas do desespero.
E então começou, da clínica ao divã, impulsionado sobretudo pela decisão
de enfrentar tudo, movido por tantas forças, especialmente pela força do "não".
O que se faz quando não se tem mais para onde ir?
Pensei que já havia morrido diversas vezes,
mas ainda faltava morrer mais uma vez.
O "sim" às vezes pode ser uma esperança cruel,
um sussurro promissor que se desvanece na escuridão das noites de desespero.
Não veio o que eu precisava, mas agora sei que posso prosseguir,
e com a decisão, abriu-se o sol.
Meu coração enfim descansou, muito antes dos efeitos dos remédios.
Não há força maior do que a consciência que, vencida, aceita seu destino.
Ainda há tanto a resolver, os desafios ainda são enormes,
mas sigo refazendo rotas, celebrando a alegria das razões mais simples.
Mudei o discurso; não é que não tinha, é porque sempre tive o que realmente importava.
Como agora, é sobre começar de novo, de um lugar já conhecido—
de casa, do lar que existe somente dentro de nós mesmos.
Eu tenho 43 anos!
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#CaminhosDaFloresta
Morena
É sobre esse desejo que tua imagem desperta,
não confinado apenas a ti,
mas um eco do prazer e de tudo que o corpo pode experimentar,
da alegria potente que a vida oferece.
É sobre sexo, afinal, o que não envolve sexo?
Sobre penetrar o espaço do outro,
invadir territórios, deleitar-se em cada descoberta.
Se tua imagem já excita,
tua voz eleva a provocação a delírios,
imagina, então, a presença real de teu corpo.
Tudo pode ser fictício,
mas se carne há nesse jogo de imagens,
quero saborear cada momento com voracidade.
Quem sabe, por aqui, no ressurgir das ilhas de minha mente,
tu sejas a primeira musa do tempo presente,
e como as mais enigmáticas musas,
te tornes essa mulher-mistério que me fascina.
#Desejo
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Oceano
Entendo teu medo,
e por vezes, pensei em jamais ir além do olhar.
Como poderia eu perturbar a paz que cultivavas?
Passei muito tempo com o mesmo receio,
preferindo a calma do porto ao tumulto das ondas.
Mas o chamado do mar sempre foi mais forte.
Nunca acreditei que fosse possível,
não sou dos que carregam o otimismo dos apaixonados.
Afinal, por que olharias para mim?
Mas ali, na praia do nosso encontro,
olhei nos teus olhos e percebi que a vida é efêmera,
e você se tornou um sentimento inegável.
Sinto-me agora como um náufrago, dependente dessas águas,
incerto sobre como navegar nessa correnteza.
Estava em paz antes de você chegar,
e agora, tudo o que quero saber é se sentes o mesmo.
Não desejo abandonar esta praia,
nem me despedir, nem aceitar teu talvez.
É desafiador para mim também,
mas cada minuto que passamos juntos
revelou tantas verdades.
Deixo a porta aberta, na esperança que entres por ela.
Se não vires, como poderei te culpar?
O que sou, senão um pescador à beira-mar,
observando aqueles que se aventuram em alto mar encontrarem maior felicidade?
Você é o oceano que anseio navegar.
#Amor
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Estranho Amor
Eu queria te amar em silêncio,
sem palavras, sem poesias,
pois jamais soube encantar com versos.
Ficaria aqui, contemplando-te como um menino,
invisível aos teus olhos, pois não possuo o que desejas,
mas o amor, ah, o amor é uma coisa estranha.
Queria viver meus amores na poesia,
pois se por ventura vieres, como saberei lidar contigo?
Sou pequeno demais para a imensidão de tua presença.
Mas você decidiu olhar para mim,
não sei se realmente me viu, ou se teu olhar
simplesmente me atravessou, buscando algo além.
Meu corpo foi exposto a ti,
meus olhos perdidos, sem saber o que dizer,
meus pés desenhando incertezas na areia,
minhas mãos, trêmulas, incapazes de te tocar.
Pode ser que amanhã acorde e descubra
que não fui nada além de um sonho passageiro.
E eu ficarei aqui, vendo-te chamar outro
para preencher teus vazios,
enquanto eu sigo vivendo na poesia,
na certeza de que o amor é, verdadeiramente, uma coisa estranha.
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Renovação ao Amanhecer
Eu deveria estar falando da ausência,
mas hoje, após a noite de escuridão e da clareza do não,
o sol então raiou.
A luz do novo dia que entrava pelo corredor trouxe a certeza da manhã,
um novo dia para as mesmas repetições,
e são nas repetições que encontramos espaço para elaborar.
Ergui-me então, com a sobriedade de quem conhece o ciclo dos dias,
sim, tudo mudou, talvez então seja hora de mudar aqui também.
Não sei ainda que caminhos de retorno trilharei,
mas sei que não existe retorno ao passado.
Agradeci, como de costume, e prossegui fazendo o que faço de melhor.
E lá estava minha recompensa diária,
sim, sou importante para centenas de pessoas,
mas isso só me humaniza mais,
pois o que de mim vaza não é performance, é essência.
Decidi então celebrar, e no fim, a celebração é de fato minha—
sou um sobrevivente do meu próprio inferno pessoal,
e está na hora de recomeçar, de novo.
Aproxima-se o dia, mas a noite já chegou.
Ainda há o mar, ainda há a poesia, ainda há a música e o vinho.
E mesmo que haja luz na noite, e a solidão ainda seja minha realidade,
faço minhas pazes com ela.
Hoje, faço as pazes com a tristeza e a solidão,
e dessa forma encontro meu lugar pacífico de ser.
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Desamparo
No fundo, é simples:
Tudo mudou, e se o amor permanecesse inalterado,
nada poderia detê-lo, pois o amor é forte como a morte
e implacável como a sepultura.
Mas o amor se foi, restaram apenas as palavras,
e palavras não têm força para vencer sentimentos.
A cada vez que uma mínima esperança tenta se erguer,
sou arrastado de volta pelo peso implacável da realidade.
E qual é essa realidade?
Estou na escuridão, e me negas um teto;
Estou afundando, e me negas a mão;
Estou morrendo, e me negas companhia.
Sabes bem quem sou, se é que ainda te recordas.
Há quem tenha uma profunda capacidade de esquecer,
mas se ainda lembrasses, saberias o que esta noite significaria.
Agora, não importa mais; aliás, pouco ainda importa.
Dizes não saber o que fazer? Mas sabes, e fazes.
Tudo que fazemos revela algo sobre nós.
Queria poder crer que tudo é apenas minha paranoia,
meu desespero infundado,
mas não é paranoia, é fato: escolheste me deixar na escuridão.
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Inferno
Inferno, deve ser esse estado de alma,
Mergulhado em agonia, incapaz de tocar qualquer verdade.
Olho para tudo que foi e percebo que nada é real;
É apenas um eco distante, uma ilusão desfeita.
Vivo uma sensação constante de perda,
Não é que tudo já tenha se perdido ou morrido;
No inferno, nada morre,
Nada chega ao fim,
É um sofrimento incessante, uma dor que não cessa.
Tento desesperadamente acreditar que é diferente,
Mas afundo cada vez mais no mesmo desespero.
Necessito algo que nunca chega,
E o inferno responde sempre com um não implacável!
É um pensamento constante, sem descanso,
Um desejo sem objeto, um anseio vazio,
Um movimento sem direção,
Amor que clama, mas não é correspondido.
Conheço as correntes que me prendem,
Mas não consigo quebrá-las,
Estou só, e essa solidão não produz nada,
Apenas ecoa um silêncio que grita.
É uma memória sem história,
Regando plantas secas que jamais florescerão,
Percebendo que tudo acontece fora de mim,
E ninguém vê, ninguém percebe minha agonia.
Cansaço, confusão, medo —
É uma esperança que se renova por instantes,
E morre tão rapidamente quanto uma gota de água em fogo ardente.
Após Você
Era para ser você nas horas da minha maior angústia,
Era para ser você a me impedir de afundar.
Mas, com toda razão, preferiu se salvar—
Ah, dizem que só quem ama de verdade morre pelo outro.
O que restou de nós em ti, senão justificativas eloquentes para tua ausência?
Como posso entender que me deixaste aqui?
Se queres que eu veja pelo teu olhar, talvez tenhas razão.
Mas o amor não segue a lógica da razão;
Ele falhou justamente quando mais precisei.
Eu precisava de mais noites ao teu lado,
De mais abraços que curam,
De ouvir apenas uma vez: "Hoje, eu preciso de você."
Mas a dura verdade é que você não precisa,
Nunca precisou, e tua rota de fuga sempre esteve clara.
Tens tua vida, e eu não faço mais parte dela.
Sou agora apenas uma lembrança moral do que chamávamos de amor,
E o que preciso é seguir em frente,
Confrontar essa dura verdade.
Foi isso que encontrei no dia, na noite, em nossos encontros sem real propósito—
Tua beleza, teu charme, teu caminho, tuas metas, tua vida não me incluem mais.
Hoje, o que preenchia o vazio começa a desmoronar,
E a ausência reassume seu sombrio lugar.
Resta perguntar o que será de mim após você.
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Normalidade
Eles não se cansam de inventar amores,
de dar nomes a uma só realidade;
vivem de ilhas imaginárias, veem mais do que existe.
O que é o mar, senão o próprio mar?
O que é o sentir, além do que se sente no corpo?
E o amor, será algo mais que um desejo simples e profundo?
Sim, eu sempre estou lá,
a voz que clama — Pare!
O normal não reflete o real.
A poesia é feita de sangue, carne e pele,
não há por que negar que nossas peles se compreenderam,
nossos sentidos concordaram com tudo o que é belo.
Você é a beleza capturada pelos olhos,
o desejo palpável da carne,
o sentir profundo das emoções.
Felizes são os que não se negam,
e como pensamos que não fomos felizes?
Mas essa constante necessidade de algo mais nos desvia da verdade.
Não há necessidade de falar do que não existe.
Pare de ouvir as vozes da sua imaginação,
e ouça o que diz o seu corpo.
Você foi minha,
eu fui seu,
e juntos, fomos um do outro.
Hoje, você está distante, perdida em mil pensamentos.
Muitos procuram te amar, outros desejam te possuir;
eu só quero você, e nada mais.
Mas como deixar-se apenas ser?
Somos uma eterna contradição,
e essa, no fim, é a nossa normalidade.
Você pisou nas ilhas do delírio,
mas nesse delírio reside muita realidade.
Se não esquecer, você conseguirá sentir o toque do que realmente importa.
O que importa tem cor, cheiro, textura;
não são meros textos ou promessas vazias.
O que realmente existe é uma vida enquanto se vive.
Se vier, viverá de todos,
pois além deste mundo, todos te interessarão;
mas aqui, todas vocês se tornaram únicas.
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**Adeus aos Sonhos Inacabados**
Sabe aquela sensação de fracasso,
De que não importa o quanto você tente, sempre acabará perdendo?
Eu deveria ser grato neste momento, mas um choro reprimido me invade,
E quando olho para trás, vejo-me sem história, sem vínculo, sem passado.
Dirão palavras de consolo, mas a dor aqui dentro é imensa,
Mais um sonho se desfaz, inacabado, sem se completar.
E é preciso dizer adeus mais uma vez.
Adeus, minha terra, meu refúgio inventado,
Enquanto exististe em minha mente, foste minha salvação.
Adeus, minha vila, com seus quartos nunca construídos,
Adeus, meu sonho de reunir aqui o que pensei ter alcançado.
Adeus, meus coqueiros, altar de amor que se enfraquece com cada fraqueza minha,
Adeus, meu pôr do sol, adeus ao que nunca foi realmente meu.
O documento que possuo ainda é aquele sem nome,
O filho de ninguém.
E agora, nem mesmo brincar de fantasiar me é permitido,
Não posso me dar ao luxo de muitos sonhos,
E, no entanto, tenho que continuar por todos.
Qual será meu próximo sonho perdido?
Ivo Fernandes
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Vinte Anos Depois
Vinte anos se passaram,
Quantas vezes recolhi os cacos do meu próprio ser?
Quantas esperanças nasceram e morreram nesse intervalo?
Quantos novos sentidos não encontraram nenhum caminho?
Os medos permaneceram os mesmos,
E já nem sei se restam dúvidas,
O dilema é o de sempre, uma constante em minha jornada.
A questão, como disse na canção e pelo analista, é:
Sob que máscara retornará o recalcado?
E embora o mar tenha se escondido da vista,
Ainda posso ir ao seu encontro.
O verdadeiro milagre é uma oportunidade de recomeçar,
De encontrar novos começos no meio aos fins,
De descobrir novas versões de mim mesmo
A cada tentativa de renascer.
Ivo Fernandes
Erguer-me
Aqui estou, neste lugar tão familiar,
Desfeito, ansiando desesperadamente por algo que possa já ter,
Cansado de repetir meus próprios ciclos de declínio.
Muitos dizem que tudo depende apenas de mim,
Outros prometeram que a idade traria alívio,
Mas o que consegui? Apenas a extensão do tempo entre quedas.
Então, a tempestade chega e leva tudo consigo,
Deixando-me neste vazio de desamparo primitivo.
Existem tantos desejos, mas eu só quero um,
Aquele que, no fundo, sei que não é o verdadeiro UM.
Se alguém visse o que eu enfrentei, talvez entendesse,
Minha única esperança é a vida em si,
Quantas vezes a morte espreitou, planejando nossa união eterna?
Ainda assim, a vida insiste,
Após as trevas, o amanhecer sempre chega.
Ah, como anseio por aquela mão segurando a minha,
Sussurrando que vamos superar isso juntos.
Nos dias de minha profunda solidão,
Resta-me erguer-me como o dia nasce,
Conquistar o medo paralisante da perda,
E se preciso for, mil vezes o farei.
Ergo-me como a onda, mesmo destinada a quebrar na praia,
Sabendo que cada esforço é um chamado por atenção,
Crio mil verdades fictícias, só para ser visto,
E evitar o abandono que tanto temo.
Mas houve um tempo em que estive sozinho,
Ouvindo o eco de meus próprios gritos no silêncio,
Lutando para respirar no fundo deste oceano emocional.
E ela, a morte, surge novamente como uma escolha tentadora.
No entanto, se um novo dia me foi concedido,
Ergo-me e repito o mantra de sempre:
Viverei até morrer.
Talvez nunca tenha tudo o que realmente preciso,
E aqueles que dizem que bastava pedir nos enganam.
O que desejo parece impossível.
Mas me preencho de gratidão pelo que recebi,
E com esse espírito, recomeço,
Pronto para enfrentar o que vier, renovado.
Ivo Fernandes
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Afogando-se em Chamas Internas
O fogo ardente, em mim, queima sem cessar,
Uma tempestade de sensações me assola,
E em fragmentos, tudo agora já despedaçado,
É esse desejo voraz, que por objetos não se apazigua.
Indeciso, persigo sombras no escuro,
Sinto-me afogar em um mar de incertezas,
O que era bom se dissipa, evapora-se,
No desespero, chego até a odiar minha própria essência.
Cansado de esforço vãs de preencher o vazio,
Anseio por um alento, mas só encontro aflição,
Nunca atinjo o leito desse oceano de desesperança,
Nesta batalha sem fim, sem um refúgio para repousar.
Será, porventura, no abismo mais profundo que encontrarei paz?
Onde a consciência do eu se esvai na imensidão do nada?
Onde, enfim, me desvencilharei desse fardo pesado que me consome?
Ivo Fernandes
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