Enfrentando a Misoginia Recreativa na Escola: Desafios e Iniciativas para a Promoção da Igualdade de Gênero
A misoginia recreativa, forma sutil e muitas vezes disfarçada de "brincadeira", é uma realidade presente em muitos ambientes escolares.

A misoginia recreativa, forma sutil e muitas vezes disfarçada de "brincadeira", é uma realidade presente em muitos ambientes escolares. Essa prática, que envolve piadas, comentários e comportamentos que desqualificam e degradam as meninas e mulheres, precisa ser enfrentada de maneira incisiva nas escolas para garantir um ambiente de aprendizado seguro e igualitário para todos os estudantes. Compreender a profundidade do problema e adotar medidas educativas e legislativas é fundamental para promover uma cultura de respeito e equidade de gênero.
O Conceito de Misoginia Recreativa
A misoginia recreativa refere-se a comportamentos que, sob o disfarce do humor, perpetuam estereótipos de gênero e subestimam as capacidades e o valor das meninas e mulheres. No ambiente escolar, essas manifestações podem variar desde comentários depreciativos, como "meninas não são boas em esportes", até práticas como mansplaining (explicar algo óbvio de forma condescendente) e manterrupting (interrupções frequentes das falas femininas).
Esse tipo de comportamento, ainda que aparentemente inofensivo, reforça uma cultura de inferiorização feminina e pode ter efeitos profundos na autoestima e no desenvolvimento das meninas. Além disso, contribui para a normalização da violência de gênero, que pode escalar para formas mais graves, como o assédio sexual e a violência física.
A Importância da Educação para Combater a Misoginia
A escola é um dos principais espaços de socialização e formação de valores, o que a torna um ambiente crucial para o enfrentamento da misoginia. A partir dessa compreensão, iniciativas como a Semana Maria da Penha nas Escolas, promovida pela Secretaria da Educação do Ceará (SEDUC), têm se mostrado essenciais. A VIII edição da Semana, com o tema “#MachismoNãoÉBrincadeira: Enfrentando a Misoginia Recreativa na Escola”, focou em sensibilizar alunos e professores sobre os impactos desse tipo de violência simbólica e a importância de promover uma cultura de respeito e igualdade de gênero.
Durante essa semana, diversas atividades foram sugeridas para conscientizar a comunidade escolar, incluindo palestras, oficinas e debates sobre a Lei Maria da Penha, bem como exibições de filmes e documentários que abordam a violência de gênero. Além disso, foi incentivada a criação de espaços de diálogo onde os estudantes pudessem compartilhar experiências e refletir sobre as dinâmicas de poder e gênero presentes em suas interações diárias.
Propostas Legislativas e o Enfrentamento da Misoginia
Além das ações educativas, a luta contra a misoginia recreativa também passa pela criação e implementação de políticas públicas e legislações específicas. Em março de 2023, o Projeto de Lei 896/2023 foi apresentado no Senado Federal pela senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA). Esse projeto propõe a criminalização da misoginia, inserindo-a na Lei 7.716/1989, que já tipifica crimes como racismo, homofobia e transfobia.
A proposta surgiu de uma ideia legislativa apresentada pela psicóloga e pesquisadora Valeska Zanello, da Universidade de Brasília. Zanello argumenta que, assim como o feminicídio, a misoginia precisa ser criminalizada para que a sociedade compreenda a gravidade dessas práticas e para que haja uma punição adequada para aqueles que perpetuam essas formas de violência. A iniciativa ganhou rapidamente apoio popular e foi formalmente apresentada como projeto de lei.
Misoginia Recreativa e Racismo: Interseções e Desafios
A misoginia não atua isoladamente; muitas vezes, ela se cruza com outras formas de opressão, como o racismo. Em escolas onde a população estudantil é majoritariamente negra, a misoginia recreativa frequentemente se manifesta de maneira entrelaçada com o racismo recreativo. Isso se reflete em ofensas que desqualificam meninas negras tanto por seu gênero quanto por sua raça, tornando mais grave as desigualdades e a violência.
Conclusão
O enfrentamento da misoginia recreativa nas escolas é um desafio complexo que exige uma abordagem multidimensional, incluindo educação, políticas públicas e legislação. Através de projetos como a Semana Maria da Penha nas Escolas e iniciativas legislativas como o PL 896/2023, é possível construir um ambiente escolar mais justo e igualitário, onde meninas e meninos possam se desenvolver plenamente, livres de discriminação e violência.
Promover a igualdade de gênero e combater a misoginia recreativa é um passo crucial para transformar as escolas em espaços verdadeiramente inclusivos e respeitosos, preparando as futuras gerações para viver em uma sociedade mais justa e equânime.